Sua profissão vai mudar. E sua vida também
Nossa agonia imatura de definir a vida em uma única profissão e porque você, provavelmente, vai mudar de profissão
A ansiedade de escolher uma única profissão
A expectativa de escolher uma única profissão para a vida toda é uma das fontes mais comuns de ansiedade, especialmente entre jovens no início de suas carreiras.
Essa pressão vem de um modelo de sucesso já ultrapassado, que presume que a carreira é um caminho linear e imutável. Simon Sinek, autor de Start with Why, argumenta que a verdadeira realização vem de entender o motivo pelo qual fazemos o que fazemos, e não de seguir cegamente uma trajetória predeterminada.
Na prática, isso significa que não devemos temer a mudança, mas sim abraçá-la como parte natural do crescimento profissional e pessoal. No entanto, a ideia de uma "única escolha certa" é tão enraizada em nossa cultura que muitos se sentem paralisados ao tentar encontrar a "carreira dos sonhos".
Esse texto é uma co-criação com Henrique Feil. Nos conhecemos na comunidade Micro-Saas e AI Builders. Contando um pouquinho sobre Henrique:
Ele é empreendedor e especialista em desenvolvimento de tradesystems para fundos de investimento. Apaixonado por automação e IA, combina criatividade e análise para resolver desafios complexos, sempre em busca de inovação e eficiência. E junto com ele, eu (Enzo) estarei escrevendo no recuo ao laranja para você conseguir diferenciar quem escreveu cada uma das sessões.
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Como a tecnologia está remodelando o mercado de trabalho
Vivemos em uma era de transformações profundas no mercado de trabalho. A tecnologia, a globalização e as mudanças econômicas têm alterado o panorama das profissões em um ritmo que poucos de nós poderíamos prever.
Enquanto crescia, me deparei com a expectativa comum de escolher uma profissão, a “carreira dos sonhos”. A sociedade nos ensina a responder àquela famosa pergunta: "O que você quer ser quando crescer?" com uma certeza quase absoluta, como se estivéssemos predestinados a seguir uma única trajetória.
Porém, a realidade não é bem assim. Ao longo da minha vida, e conversando com jovens como o Enzo Dulius, noto que muitos chegam à mesma conclusão: a escolha profissional não é um caminho linear. Ela não precisa ser. Ao contrário: as carreiras, assim como a vida, se moldam a partir das oportunidades, experiências e mudanças de foco que ocorrem ao longo do tempo. E com tantas mudanças acontecendo no mercado de trabalho, surge uma questão que desafia os antigos paradigmas de sucesso.
A velocidade com que a tecnologia avança está mudando não apenas o mercado de trabalho, mas também a própria definição de sucesso profissional. O relatório "The Future of Jobs 2023", do Fórum Econômico Mundial, estima que cerca de 44% das habilidades dos trabalhadores precisam ser atualizadas até 2027, enquanto 60% deles deverão passar por treinamento durante esse período.
Isso é impulsionado pelo avanço da automação, a digitalização e a crescente adoção da inteligência artificial no mercado de trabalho, o que desafia o modelo tradicional de uma carreira fixa e linear. O relatório também destaca que o mercado valorizará habilidades mais transversais (generalistas), como pensamento analítico, criatividade e aprendizado ativo, essenciais para se adaptar às mudanças contínuas
Essa realidade desafia a noção tradicional de uma profissão imutável. A capacidade de se adaptar rapidamente às novas tendências se tornou uma das maiores vantagens competitivas. O conceito de career agility está cada vez mais relevante, pois profissionais que se dispõem a aprender novas habilidades conseguem se reinventar, agregando valor de forma mais ampla. Em vez de resistir às mudanças, é essencial adotar uma mentalidade de aprendizado contínuo.
O mito do especialista: Ser generalista é um problema?
Durante muito tempo, fomos criados com a ideia de que a especialização era o caminho mais garantido para o sucesso. Afinal, ser um especialista em algo bem definido parecia a única forma de se destacar no mercado. No entanto, como Enzo mencionou em nossa conversa, essa especialização pode se transformar em uma armadilha. O especialista muitas vezes se limita a resolver apenas um tipo de problema, o que o torna vulnerável em um mercado em constante mudança.
Por outro lado, o generalista — aquele que navega por múltiplas áreas — é muitas vezes visto com desconfiança. A crítica comum é que ele não faz nada extremamente bem, mas está sempre adaptável. Eu compartilho dessa visão. Na minha própria carreira, passei por várias transições: comecei com administração, migrei para finanças, trabalhei com TI e, atualmente, atuo na automação de processos com uso de inteligência artificial. Cada uma dessas experiências contribuiu para o meu desenvolvimento, e quanto mais aprendi, mais percebi o valor de ser generalista.
Essa flexibilidade é fundamental em tempos de incerteza, como destacou Peter Drucker, o pai da administração moderna:
“O maior perigo em tempos de turbulência não é a turbulência em si, mas agir com a lógica do passado.”
- Peter Drucker
Aplicar essa lógica de adaptação ao mundo moderno é crucial. Quem não está disposto a se reinventar e a aprender constantemente acaba sendo ultrapassado pelas mudanças.
Essa ideia também se alinha à teoria popularizada por David Epstein em seu livro Range: Por que generalistas vencem em um mundo de especialistas?.
Epstein argumenta que, em um mundo cada vez mais imprevisível e complexo, os generalistas são melhores equipados para integrar conhecimentos de diferentes áreas e se adaptar rapidamente às novas demandas.
No entanto, grande parte dessa visão sobre a especialização versus generalização vem de como fomos moldados pela educação tradicional. E isso nos leva a refletir sobre o papel da formação acadêmica em um mundo que já não segue mais as mesmas regras.
Como minha jornada reflete esses conceitos
Desde jovem, enfrentei a expectativa de seguir uma carreira única, especialmente dentro da indústria em que minha família estava inserida. Por uma inquietação mental própria, eu mesmo comecei a buscar formas generalistas de me desenvolver. Comecei a traçar linhas horizontais com diversos assuntos em amarelo, abaixo eu colocava um post-it rosa que representava cada “um livro físico lido", em laranja “um livro digital lido". Acima em verde “um curso ou TED visto". E assim ia medindo minhas "habilidades genéricas”, tudo isso antes do ensino médio, dos 13 aos 16.
Quando chegou a hora de escolher meu curso técnico agregado ao ensino médio, a primeira visão que eu tive foi de me especializar em "Design de Móveis” na “região da indústria de móveis do Rio Grande do Sul” (ou seja, eu iria levar uma a duas horas de deslocamento por dia) a fim de ser esse especialista na “região da indústria de moda". Quando eu acabasse o curso, seria um especialista diferente para aquela região.
Foi assim que, no ensino médio, comecei o curso técnico em design de móveis, mas minha forte veia empreendedora fez com que após cerca de 16-18 meses nesse curso, já tivesse a visão de começar um projeto mais Student-Center-Design para criar um novo modelo de sala de aula, depois disso tudo começou a avançar na minha vida, como já contei por aqui.
Entretanto o essencial a se destacar é que eu poderia ter olhado tudo isso e dito “Vou trabalhar com moda”, em meio a um gigante oceano vermelho de pessoas iguais a mim, no meu caso era “óbvia” a escolha. Porém saber o que escolher não sendo o caminho “óbvio” já era muito mais desafiador!
A formação tradicional está obsoleta?
A formação acadêmica tradicional, especialmente em áreas como administração e outros cursos “genéricos”, muitas vezes é vista com desdém, principalmente pelos jovens que acreditam que uma especialidade é necessária para se destacar. Isso não poderia estar mais longe da verdade. No meu caso, o conhecimento generalista adquirido durante minha graduação me forneceu uma base sólida para navegar entre diferentes campos. Tive a oportunidade de aprender sobre marketing, finanças, gestão de pessoas e muito mais, formando uma espécie de “salada de frutas” que me permitiu atuar em várias áreas.
Hoje, o mercado de trabalho valoriza cada vez mais as soft skills — competências transversais como pensamento crítico, criatividade e inteligência emocional.
De acordo com o Future of Jobs Report 2023, publicado pelo Fórum Econômico Mundial, as "soft skills", como pensamento crítico, criatividade e inteligência emocional, estão se tornando cada vez mais essenciais para o futuro do trabalho. Essas competências são vistas como cruciais para a adaptação em um mercado de trabalho dinâmico, impulsionado pela inteligência artificial, automação e transição verde. O relatório destaca que cerca de 23% dos empregos devem mudar até 2027, com uma forte demanda por requalificação e o desenvolvimento de habilidades transversais para lidar com esse cenário em rápida evolução
Essas habilidades serão essenciais para a força de trabalho do futuro. Isso reforça a ideia de que, assim como um “pato” que transita por várias águas, o generalista pode preencher lacunas e integrar conhecimentos de maneiras que os especialistas muitas vezes não conseguem. A adaptabilidade tornou-se a verdadeira vantagem competitiva.
Como escolher sua profissão em um mundo em constante mudança?
O primeiro passo é desmistificar a ideia de que precisamos fazer uma escolha definitiva logo aos 20 anos. Muitos jovens, como Enzo, sentem-se perdidos ao concluir a graduação, especialmente em cursos amplos como administração, justamente por essa pressão para se especializar. No entanto, ao longo da vida, somos chamados a nos reinventar. Se você se formou em um curso genérico, veja isso como uma oportunidade, e não como uma desvantagem.
O ano era 2020, a pandemia tinha acabado de começar e eu estava fazendo Design Bacharelado, tive duas aulas presenciais antes de todos começarem o modelo remoto. Realizei duas matérias até entender que estava perdendo tempo na graduação, eu precisava de algo mais rápido para me desenvolver.
Quando percebi que a educação tradicional estava ultrapassada e lenta e decidi migrar para o design de experiência do usuário (UX), entrei no XP36 da Gama Academy (adquirida pela Ânima Educação), era um bootcamp de desenvolvimento em: Insise Sales, Vendas, Full Stack Development ou Design UX/UI.
Dá uma olhada no Enzo que gravou um vídeo para se apresentar para a galera, na época eu tinha 18 anos.Pode parecer besteira, mas essa transição que eu fiz de parar de acreditar que eu seria um Designer convencional (Designer de moda, Designer de Interiores, Designer Gráfico ou Designer de Produto) e riscar todas essas opções e pensar em um super nicho no momento que era Design User Experience e User Interface (mais focado em apps e soluções digitais) foi o primeiro momento em que exerci a minha adaptabilidade de me remodelar para o mercado de trabalho.
Participar do High Impact Companies Program da Stone&Co também foi um marco em minha trajetória. Estar entre CEOs mais experientes reforçou a importância de abraçar a adaptabilidade e buscar aprendizado contínuo, mostrando como o generalismo pode ser uma vantagem estratégica em ambientes de alta pressão.Por fim, a fundação da Futuro Audaz e da Fato Impacto foi um exemplo claro de como o career crafting pode transformar a trajetória profissional. Criar soluções para problemas empresariais e focar em habilidades generalistas para o futuro do trabalho demonstra a importância de abraçar a mudança, em vez de temê-la.
Também é importante entender que sua profissão provavelmente mudará ao longo dos anos. Na minha própria trajetória, mudei o foco várias vezes, ajustando-me conforme minhas paixões e o mercado evoluíram.
Esse conceito de career crafting, defendido pela professora Amy Wrzesniewski, da Yale School of Management, nos convida a moldar nossas carreiras de acordo com nossos valores e as oportunidades que surgem, em vez de seguir rigidamente uma trajetória pré-definida.
O conceito de career crafting, também conhecido como job crafting, foi desenvolvido por Amy Wrzesniewski e Jane Dutton em 2001. Ele se refere ao processo pelo qual os profissionais redefinem e reestruturam seus papéis no trabalho de maneira a torná-los mais significativos e alinhados com seus objetivos pessoais. Diferente do design de cargos tradicional, que foca em características objetivas das tarefas, o career crafting é uma prática ativa, onde os funcionários ajustam aspectos das tarefas, relações e a própria percepção sobre o trabalho, criando maior engajamento e satisfação
O career crafting busca aumentar o sentido do trabalho ao permitir que os indivíduos ajustem tarefas e interações de forma a sentir maior controle e conexão com suas atividades, promovendo a motivação e até mesmo o desempenho a longo prazo. Pesquisas indicam que essa prática pode ser ainda mais eficaz quando combinada com uma mentalidade de crescimento pessoal, permitindo que as pessoas se reinventem tanto no aspecto profissional quanto no pessoal
Para saber mais sobre o conceito e suas aplicações, você pode acessar o artigo original no ResearchGate
Sinais de que é hora de mudar de profissão
À medida que você progride em sua carreira, diversos indicadores podem sugerir que é hora de considerar uma mudança de profissão. Alguns dos sinais incluem:
Insatisfação persistente: Sentimentos constantes de descontentamento ou falta de propósito no trabalho atual.
Estagnação: Percepção de que não há mais espaço para crescimento ou desenvolvimento.
Mudanças externas: Transformações no mercado de trabalho que ameaçam a relevância ou a demanda da sua profissão atual.
Steve Jobs expressou bem essa reflexão:
“Seu trabalho vai preencher grande parte da sua vida, e a única maneira de estar verdadeiramente satisfeito é fazer o que você acredita ser um ótimo trabalho. E a única maneira de fazer um ótimo trabalho é amar o que você faz. Se você ainda não encontrou, continue procurando. Não se acomode.”
- Steve Jobs
Essa frase nos lembra que o verdadeiro sucesso não está apenas no status ou na segurança financeira, mas em um profundo alinhamento com nossas paixões e valores.
Jobs também ofereceu outro conselho valioso: “Se você se levantar pela manhã e olhar no espelho por vários dias seguidos e não gostar do que está fazendo, está na hora de mudar.” Não devemos ignorar os sinais internos de descontentamento. Quando a insatisfação se prolonga, é um forte indicativo de que é hora de buscar uma nova direção.
Ferramentas práticas para fazer escolhas profissionais mais inteligentes
Com essas ideias em mente, como podemos tomar decisões mais conscientes e inteligentes sobre nossa carreira? Existem algumas ferramentas práticas que podem ajudar:
Autoconhecimento: Antes de qualquer grande decisão, o autoconhecimento é crucial. Testes de personalidade como o Big Five podem oferecer insights valiosos sobre nossos traços de comportamento. No meu caso, por exemplo, minhas características de alta dominância e abertura me ajudaram a assumir riscos e explorar novas oportunidades sem medo das mudanças.
Construir habilidades transversais: Em vez de focar exclusivamente em habilidades técnicas, também é importante desenvolver habilidades comportamentais e interpessoais, como a capacidade de resolver problemas em várias frentes, algo que, como Enzo mencionou, aumenta consideravelmente nosso valor no mercado.
Adotar uma mentalidade de crescimento: A psicóloga Carol Dweck popularizou o conceito de growth mindset, ou mentalidade de crescimento. Isso significa que devemos encarar cada desafio como uma oportunidade de aprender, em vez de acreditar que nossas habilidades são fixas. Com essa mentalidade, a troca de profissão não será vista como um obstáculo, mas como uma oportunidade de evolução.
Diversificar suas experiências: Assim como eu transitei por várias áreas, você também pode explorar novas frentes, seja por meio de projetos paralelos, cursos online ou novas funções dentro da empresa. A diversificação amplia nossas perspectivas e fortalece nossa capacidade de adaptação.
Jim Collins, no livro Good to Great, reforça essa ideia ao argumentar que o verdadeiro sucesso vem da interseção entre paixão, talento e a compreensão do que o mercado precisa. Encontrar essa convergência pessoal é essencial para alcançar um sucesso duradouro e satisfatório.
O que o futuro reserva?
Para muitos, a ideia de mudar de carreira pode ser assustadora. Mas no mundo atual, essa mudança é inevitável. Em vez de resistir, devemos abraçá-la. As habilidades que adquirimos ao longo da vida, sejam formais ou informais, nos ajudarão a navegar com mais segurança em um cenário de incerteza. Como mencionei ao Enzo, com 39 anos, estou mais uma vez mudando de foco. Depois de 14 anos em finanças quantitativas, agora me concentro em automação de processos. E o mais importante é entender que, assim como o mercado muda, nós também precisamos mudar.
Peter Drucker disse certa vez: “O melhor jeito de prever o futuro é criá-lo.” Ao abraçar a adaptabilidade e o crescimento contínuo, criamos nosso próprio caminho, mesmo em um mundo em constante transformação.
Adaptabilidade e crescimento contínuo
O mercado de trabalho atual é imprevisível, e a única certeza é que mudanças ocorrerão. Adaptar-se rapidamente e continuar aprendendo não é apenas uma escolha, mas uma necessidade. Ao longo da minha jornada, cada transição profissional foi uma oportunidade de crescimento, alinhada com o conceito de career agility.
Para se preparar para esse futuro dinâmico, inscreva-se na Fato Impacto Newsletter e, exploraremos como adaptar-se e crescer em um mercado de trabalho em constante evolução!